Com o título inspirado na música 1.8 da banda Pato Fu, reúno nessa série fotografias realizadas em 2010 em São Paulo.
Em 2010, comecei a desenvolver esta série de fotos, que coloca em primeiro plano as imagens que muitos paulistanos se esforçam para ignorar: pessoas em situação de rua. Essa produção fotográfica é uma extensão direta das reflexões iniciadas em 2008, durante um trabalho de pesquisa para a faculdade que refletiu sobre os Moradores de Rua da Praça da Sé.
O tema da pesquisa se justificava por representar o extremo da desigualdade social” a pouca eficácia das políticas públicas e o preconceito, tratando esses indivíduos como cidadãos “quase invisíveis” para a sociedade e as autoridades.



A Queda na Hierarquia Social
A pesquisa de 2008 buscou entender os principais
processos de marginalização que levam um indivíduo à condição de morador de rua, partindo de sua própria perspectiva, e como fatores limitam ou impedem sua ascensão social. Nossa hipótese era que a perda de pontos de sustentação (como família e emprego) contribuiria para a queda na hierarquia social e dificultaria uma possível ascensão.
Ao longo da pesquisa de campo na Praça da Sé, realizada em outubro e novembro de 2007 , utilizamos entrevistas e observação para tentar capturar os relatos e experiências dos moradores de rua. Um dos desafios encontrados foi a grande rotatividade da população de rua, dificultando o estabelecimento de laços e contatos contínuos.









Referências e Perspectivas
Para o trabalho acadêmico, nos aprofundamos em diversas obras que ajudaram a moldar nossa visão:
- O livro “Na pior em Paris e Londres”, de George Orwell, nos apresentou um relato pessoal da miséria e vagabundagem no final da década de 20, com recorrentes paralelos às condições atuais no Brasil.
- O documentário “Estamira” (2004) foi usado para ilustrar a grande capacidade de formulação de teorias dos moradores de rua e a proximidade notada entre eles e a personagem do filme, além de nos atentar para a considerável parcela de moradores com algum tipo de perturbação mental.
- Conceitos de autores como Mary Douglas e Victor Turner sobre ordem, pureza e o “limiar” foram utilizados para refletir sobre as rígidas delimitações de determinadas estruturas sociais e como aqueles que não se encaixam (os “intrusos”) tendem a ser vistos de forma ruim ou hostil.










Esta série de fotos, portanto, não é apenas um registro visual. É um convite para refletir sobre essa marginalização e a dificuldade de ascensão, transformando o invisível — a rotina e o sono no asfalto — em um ponto focal da nossa atenção e debate.