“Ferrovia Madeira-Mamoré – Lente Objetiva, Trilho Sem Rumo” é um projeto que se originou de uma pesquisa acadêmica no Museu Paulista da USP em 2013. Este documentário mergulha na memória de um dos empreendimentos mais emblemáticos e trágicos da Amazônia, sob a perspectiva da construção-destruição.
A História Pelas Lentes de Dana Merrill
O filme resgata fragmentos da história da Ferrovia Madeira-Mamor a partir do registro fotográfico do americano Dana Merrill, utilizando 35 fotos selecionadas de um acervo de 2.000, das quais 200 foram catalogadas pelo Museu Paulista.
A obra busca ir além do registro da engenharia, investigando o “onde, o como e o porquê” do fato , com o intuito de evidenciar o drama humano por trás de cada instante capturado. A narrativa procura desvendar as “imagens contidas na alma das mesmas fotos – foto dentro da foto” , reescrevendo com outro olhar as fotografias estáticas de Merrill, conhecidas por seus enquadramentos precisos e clínicos.
A Epopeia Amazônica e Seu Alto Custo
A ferrovia, construída às margens do Rio Madeira, resultou no surgimento da cidade de Porto Velho e serviu como um elo vital para o escoamento da borracha do Brasil e da Bolívia. Para essa empreitada, trabalhadores do mundo inteiro foram atraídos, formando um verdadeiro “formigueiro humano” em meio a adversidades.
O documentário é uma homenagem às perdas humanas e um retrato da ambição capitalista que não conseguiu planejar contra as adversidades da região. A obra expõe a construção, a infraestrutura, as doenças tropicais, a fome e a morte. O filme evoca a ideia da “ferrovia do diabo”, onde trabalhadores de cinquenta países sobreviviam em média menos de um ano, encerrados em uma “prisão sem paredes, que é a própria floresta”.
O curta, de 12 minutos, em P&B e cor , sintetiza esse processo, começando com o Gênesis da ferrovia, percorrendo os trilhos, evoluindo para a presença agressiva do homem na selva, e terminando no cemitério. O ritmo é marcado pelo tempo de exposição de cada fotografia, sincronizado com o “latejo dos trabalhadores em seu ofício”.
A obra final nos convida a refletir sobre essa história como melancolia, na qual a modernização da selva se provou uma ilusão. Embora desativada em 1972, a ferrovia ainda é mote para um grupo de defensores que reclama sua relevância como patrimônio da humanidade junto à UNESCO.