Texto: Aline Badari – Inicialmente publicado na Revista Sintonia, nº05/2017

Já imaginou ser tirado do seu habitat natural, colocado dentro de garrafas ou caixas com centenas de outros tão assustados quanto você, sendo transportado dessa forma por longas distâncias, quando muitos não sobreviverão, pra enfim quando chegar ao destino final, ficar engaiolado por toda a vida? Pois é, essa é a realidade para muitas espécies de pássaros de nossa fauna.
Felizmente esse cenário pode ter um final feliz. O Ibama diariamente consegue resgatar animais traficados, que passam por um longo processo de cuidados e readaptação para poder voltar a natureza.
Um ponto de reabilitação para pássaros foi criado na região da serra da Mantiqueira, e após muito diálogo e leituras fomos autorizados a acompanhar uma soltura.
A soltura
Na região da Serra da Mantiqueira há muitas áreas de mata, algumas nativas, outras conhecidas como “capoeira” que vem de um processo de recuperação natural, porém uma grande parcela é composta por plantações de eucalípto ou pasto para gado, que não contribuem com a fauna que sempre viveu por aqui.

O gestor ambiental Bruno Zappa nos contou que na região já houveram diversas iniciativas de reflorestamento em parcerias com ONGs nacionais e internacionais como áreas de proteção permanente (APP). Inclusive, qualquer proprietário rural pode solicitar o plantio de árvores nativas através do Cadastro Ambiental Rural (CAR). Porém, diversas espécies da fauna nativa necessitam de áreas maiores do que as disponíveis nas APPs. Por conta disso, é fundamental que se criem corredores ecológicos, para interligar os fragmentos de floresta. Dessa forma, essas estreitas faixas de árvores nativas entre as APPs permitem que onças, por exemplo, circulem entre as áreas de mata para encontrar alimentos, sem se arriscarem em pastos e áreas habitadas.
Por conta de iniciativas particulares de reflorestamento, órgãos de preservação animal escolhem a região da Mantiqueira para a soltura de animais que já sofreram na mão de traficantes e precisaram passar por longos períodos de reabilitação.


Nesses locais autorizados são construídas instalações apropriadas para receber esses animais, onde ficam até se adaptarem com o clima. Os responsáveis tem o cuidado de não soltar animais sozinhos, pois a chance de sobreviver é menor.
Durante a soltura as portas são abertas mas os animais ainda levam um tempo para sair, alguns ainda ficam nas grades ou em árvores próximas até alçarem voo. Os cuidadores mantêm a gaiola aberta por alguns dias, pois é comum os animais voltarem, buscando segurança.



O aprisionamento de pássaros em gaiolas é uma prática muito comum, mas deve ser combatida. Ainda mais quando falamos de animais ameaçados de extinção, onde seu aprisionamento pode levar o proprietário a prisão.