“A Festa do Espírito Santo foi instaurada em Portugal pela Rainha Isabel. (…) A festa era celebrada em todo Portugal no século XVI e após o século seguinte estaria já restrita a apenas algumas poucas regiões do país. De Portugal, o costume de festejar coletivamente o Espírito Santo passou para os Açores e de lá veio para o Brasil.”
(BRANDÃO, 1978).

De acordo com a professora e folclorista Neide Rodrigues Gomes, a Festa do Divino chegou ao Brasil no século XVIII em Pernambuco. Em Joanópolis, interior de São Paulo, existem registros da Festa desde 1911. Durante sete ou oito domingos, entre a quaresma e o pentecostes, é realizada a Festa do Divino Espírito Santo de Jaonópolis. O Divino é representado pela pomba branca, símbolo utilizado de diversas formas no evento. Os divineiros se reúnem em frente ao pequeno edifício que abriga o Império do Divino após a missa, cantam, rezam e partem com suas Bandeiras do Divino caminhando para as visitas a casas e comércios, quando cantam e rezam novamente, sempre com o Imperador e a Imperatriz do Divino a frente do grupo. Depois, os devotos se dividem entre um ônibus, diversos carros e cavalos para se deslocarem ao pouso, onde rezam e cantam mais uma vez. Ao final, é a hora da comensalidade, quando é servido o tradicional afogado do divino. A todo o momento da Festa, devotos do divino fazem nós nas fitas presas as imagens do Divino, enquanto pensam em suas promessas.


A fotografia
O uso da fotografia nas ciências sociais, mais especificamente na antropologia, vem sendo debatido com maior freqüência nas últimas décadas. Um dos textos clássicos no assunto é Antropologia Visual: A Fotografia como Método de Pesquisa de Collier Jr., onde o autor propões didaticamente um método de utilização da fotografia na coleta de dados para análise social.



Godolphim acrescenta o conceito de narrativa ao uso da fotografia na etnografia:
Para a foto deixar de ser apenas uma mera ilustração, ou uma foto descritiva (no sentido raso), é preciso que ela seja pensada (na sua concepção), analisada e montada (como texto etnográfico) para que se visualize a interpretação proposta pelo pesquisador em sua descrição densa. Só quando a fotografia é disposta de forma ordenada (num texto visual ou escrito) e, geralmente, acrescida de um texto escrito ou
falado, para situar alguns dos elementos visíveis, é que o conjunto ganha esse “sentido”. GODOLPHIM (1995).
O termo fotoetnografia foi proposto por Luis Eduardo R. Achutti, fotógrafo e antropólogo, e tem como objetivo a apropriação da narrativa visual, tradicionalmente utilizada na fotografia documental, como ferramenta para observação de campo e apresentação de dados de pesquisa antropológicos:
Metodologicamente (…) minha ênfase será no uso da fotografia como uma narrativa imagética capaz de preservar o dado e convergir para o leitor uma informação cultural a respeito do grupo estudado. Proponho-me exatamente pensar e trabalhar o potencial narrativo-descritivo da fotografia. ACHUTTI (1997).
O autor define o dado como resultado da interação do antropólogo com o campo e de sua interpretação do que foi observado.



Fotografias feitas com o olhar treinado pela antropologia – fruto de uma adequada entrada no campo e devidamente contextualizada podem, de forma isolada, se constituir em bons planos descritivos, e quando agrupadas em sequências, podem compor eficientes elaborações narrativas. (idem)
Também me colocando como fotógrafo e antropólogo, meu objetivo é experienciar o método da fotoetnografia no estudo da Festa do Divino.

Bibliografia
ACHUTTI, Luiz Eduardo R. Fotoetnografia: um estudo de antropologia visual sobre cotidiano, lixo e trabalho. Porto Alegro: Tomo Editorial, 1997;
BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O divino, o santo e a senhora. Ministério da Cultura, Departamento de Assuntos Culturais, FUNARTE, 1978.
COLLIER JR, John. Antropologia Visual: A Fotografia como Método de Pesquisa. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1973;
GODOLPHIM, Nuno. A fotografia como recurso narrativo: problemas sobre a apropriação da imagem enquanto mensagem antropológica. Horizontes
Antropológicos, Porto Alegre, v.1, n.2, p.125-142, 1995.