Texto: Aline Badari – Publicado em Jornal Sintonia n15/2016

Se o ditado diz que: “tudo que você semeia hoje, vai colher amanhã”, então, acompanhando o trabalho do artista Silvio Alvarez, tenho a esperança de um amanhã colorido, cheio de arte, amor e respeito.

Silvio aguentou o bullying na infância por causa da gagueira e as suas reflexões disso repercutiram na vida adulta, tendo que lidar com uma forte depressão. A arte foi sua salvadora, passando a dedicar-se inteiramente a ela em 2006. Aprendeu fazendo, resgatando as referências deixadas pelo pai. “Quando eu tinha 7 anos meu pai me deu um fichário da indústria de bandeirinhas do mundo, algumas ele fez de colagem. E isso ficou como uma referência no meu subconsciente, anos depois, quando eu tive depressão tudo isso veio à tona e me resgatou.”

Com jeito de menino, de criança travessa, Silvio transforma tudo que sente em pura alegria, que já não basta mais como um alívio para os olhos, mas sim como a generosidade de distribuir o conhecimento que a vida lhe deu para aqueles que estiverem dispostos a ouvir e criar.

Rubem Alves (pensador, educador, escritor, etc) em um trecho do texto A arte de educar diz:

“A primeira tarefa da Educação é ensinar a ver… É através dos olhos que as crianças tomam contato com a beleza e o fascínio do mundo… Os olhos tem de ser educados para que nossa alegria aumente. A educação se divide em duas partes: Educação das Habilidades e Educação das Sensibilidades. Sem a Educação das Sensibilidades, todas as habilidades são tolas e sem sentido. Os conhecimentos nos dão meios para viver. A sabedoria nos dá razões para viver.”

E com o objetivo aprimorar o olhar e sensibilizar, que o projeto Artistas do Futuro surgiu em 2011, visitando além de Joanópolis outras cidades do Estado de São Paulo: Suzano, Guararema, Guarulhos, Mococa, Santos, Piracaia, Araçatuba, São José do Rio Preto, Porto Ferreira e Guapiaçu, totalizando mais de 12 mil crianças e jovens.

Em 2013, o artista visitou todas as escolas de Joanópolis, do 1º ano do ensino fundamental ao 3º ano do ensino médio.

O projeto consiste em apresentar cinco quadros, um de cada pintor, como Picasso, Almeida Junior, Tarsila do Amaral, Escher, Renoir, entre outros. São referências de obras de arte e a técnica da colagem, que acaba sendo um coadjuvante, já que o principal objetivo é falar sobre ser sensível e que sem criatividade não enxergamos nada na nossa frente. O projeto é um sucesso por onde passa, cativando não apenas os alunos, mas todo o corpo docente.

“Fui acolhido da maneira mais linda que você possa imaginar, acreditaram no meu trabalho, e os pais também embarcaram nessa ideia, chegando a me parar na rua pra elogiar. Isso me faz acreditar ainda mais no meu trabalho, e querer fazer ainda melhor.” diz o artista.

Além das escolas municipais e estaduais de diversas cidades, Sílvio já espalhou seu carisma também pelas faculdades da região, para os cursos de Pedagogia da FESB e de Artes Visuais da FAAT, onde no mês passado, no dia 08/11, o artista deu uma palestra e um workshop para mais de 100 alunos de artes. O artista Edson Beleza e também coordenador de Designer de interiores e professor do curso de Artes Visuais, ressaltou a importância desse contato entre o artista e os estudantes:

“É uma generosidade dele, o trabalho dele é muito sério, é muito honesto, e muito bacana. Ele inovou uma técnica bastante antiga, ele tem a peculiaridade dele, a espontaneidade dele. E ter essa oportunidade de incentivar os alunos, propor uma proposta de workshop, é fundamental para o artista em formação. Além da técnica ele desenvolveu uma didática única, que para os futuros professores é uma vivência muito importante.”

Para 2017 o projeto já foi aprovado pelo PROAC e visa contemplar 7 mil crianças. O artista enfatiza que deseja muito dar continuidade ao projeto em outras cidades da região como Piracaia, Vargem, Perdões, Nazaré entre outras, mas é um processo que depende das cidades e da escola, eles tem que abraçar o projeto.

“Em Piracaia eu dei aula na escola Augusta, eles me procuraram por que eles fazem uma mostra de artes e uma das salas escolheu trabalhar com colagem a partir do meu trabalho, e chegando lá ofereci trabalhar com a escola toda, foi muito bom. E a ideia é fazer isso com toda a região”, conta o artista.

A COLAGEM
Como embasamento teórico para a colagem Sílvio escolheu os seguintes trechos do ensaio “Reflexões sobre a colagem”, do físico, político e crítico de arte brasileiro Mario Schemberg:

“Um dos aspectos mais importantes da colagem está no fato de abrir amplíssimas possibilidades de manifestação artística sem exigir a aprendizagem de técnicas delicadas e complexas como todas as formas de arte tradicional do ocidente: pintura, escultura, gravura, desenhos e etc.”

“Na colagem são utilizadas tanto as propriedades físicas dos materiais e objetos empregados, como a sua carga humana e social como elementos de expressão artística. É também fascinante a possibilidade de utilizar obras de arte como elementos constitutivos de uma colagem transformando profundamente seu sentido anterior.”

A colagem é uma arte democrática, acessível e cheia de possibilidades. Ela contribui com o processo criativo pela facilidade de sua execução. E quando pensamos na primeira infância ela traz o benefício de auxiliar no desenvolvimento da coordenação motora fina através do uso da tesoura. No livro “A Collage como trajetória amorosa”, do professor de arquitetura da UFRGS, Fernando Fulco reflete sobre o poder criador da colagem:

“Collage é um gesto sobre um mundo destroçado de alguma forma. Quem faz collage não pode contentar-se com um mundo em ruína. Re-colar fragmentos é construir um mundo novo.”

Outro projeto desenvolvido pelo artista é realizado no Lar Joanópolis desde 2012, promovendo oficinas voluntariamente em parceria com a fisioterapeuta Aline Poli para os idosos que ali moram, sempre com um tema diferente.

E assim com um ar de Peter Pan, de menino que não quer crescer, que Sílvio Alvarez encanta e cativa. Com brincadeiras e amor, muito amor, pelo que faz e pelo outro, ele consegue tirar não só um sorriso mas sim gargalhadas de qualquer um.

É impossível estar ao seu lado e se sentir triste. Sílvio é daquelas pessoas abraçáveis, que transbordam alegria, ele aprendeu a transformar lágrimas em sorrisos e tirar o melhor que a vida tem a dar.